Turmalina Paraíba

Texto de Nicole Montanari, especialista em gemas coloridas do Gemological Institute of American - GIA, e revisão de Irinéa Barbosa da Silva.

O Brasil é um país amplamente conhecido pela variedade de minerais que possui em todo seu território. Um dos grupos de gemas reconhecidas mundialmente é o da turmalina. Silicatos de boro e alumínio, as turmalinas variam em composição devido às substituições que podem ocorrer em sua estrutura, motivo das cores diversas que apresentam, sendo os elementos de substituição mais comuns o Ferro, Magnésio, Sódio, Cálcio e o Lítio.

Algumas características físicas ajudam na identificação do mineral bruto. As turmalinas podem ser transparentes a opacas e possuem brilho vítreo. Geralmente possuem hábito prismático, estrias verticais bem marcadas, dureza entre 7 e 7,5 e densidade entre 2,9 e 3,41 g/cm3. O subgrupo da schorlita é o mais comum e possui a cor preta, da dravita apresenta a cor castanha, já as elbaítas são o maior subgrupo e possuem lítio em sua composição, possuindo diversas cores: as rosas avermelhadas são chamadas de rubelita, azuis escuras de indicolita, incolores de acroíta, verdes de verdelita, veja mais em nosso post sobre turmalinas (figura abaixo).

Variedade de cores das turmalinas (A) brutas e (B) lapidadas. (Fonte: (A) Bonebakker; (B) Gem Select)

Existe ainda uma variedade de cor azul néon, porém que pode variar para verde ou lilás néon, chamada de Turmalina Paraíba (primeira figura abaixo). Ela foi descoberta no final dos anos 80, na Mina de São José da Batalha, na Paraíba (segunda figura abaixo), tornando-se um sucesso desde então. Sua coloração é ocasionada pela presença de cobre e manganês na composição química, elementos que as tornam tão especiais e as diferenciam das demais.

(A) Turmalina Paraíba bruta e lapidada, onde é possível observar o hábito prismático e a coloração azul néon; (B) Turmalina Paraíba bruta com as estrias verticais destacadas. (Fonte: Shigley et al. 2001)
(A) Mina de Mulungu e (B) Mine Alto dos Quintos, próximas a Parelhas, Rio Grande do Norte. (Fonte: Shigley et al.; 2001)

Atualmente, o Brasil possui três minas, sendo elas nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Nos anos 2000, a mesma variedade foi descoberta na Nigéria e em Moçambique (figura abaixo).

Localização das três minas com ocorrência de turmalinas cupríferas (Turmalina Paraíba) no mundo. (Fonte: Modificado de Katsurada et al. 2019)

De acordo com a Gemological Institute of America - GIA, as turmalinas originadas nestes outros locais devem ser denominadas de turmalinas cupríferas, porém, no mercado em geral, todas são chamadas de Paraíba (figura abaixo).

Turmalinas cupríferas, com seus respetivos pesos em quilates (ct) e gramas (g) de jazidas do Brasil, Moçambique, Nigéria (Fonte: Katsurada et al. 2019)

Para se ter certeza da procedência e da presença dos elementos, alguns testes devem ser feitos em laboratórios especializados. A olho nu é praticamente impossível detectar diferenças entre as procedências, apesar de existirem características distintas como o tom ou a saturação da cor. Devido ao alto valor dessa variedade, os testes acabam sendo imprescindíveis, a fim de se ter certeza da presença de cobre e manganês. Para quantificar e identificar os elementos, são utilizadas algumas técnicas analíticas como o espectrômetro de massa por ionização acoplada por plasma com ablação a laser (LA-ICPMS), análise de microssonda eletrônica (EMPA) e fluorescência de raios-X (EDXRF). Existem também técnicas mais recentes como a Espectroscopia Raman e o Fourier Transform Infrared Spectroscopy (FTIR). Já para a identificar a procedência, o trabalho pode ser um pouco mais complexo, tendo que analisar, por exemplo, as inclusões internas do mineral e as quantidades dos elementos, sendo esse, um trabalho minucioso.

Vale ressaltar que devido ao alto valor e a fama das Paraíbas, é comum existirem imitações, podendo ser sintéticas, de vidro, ou até mesmo outros minerais. Tratamentos a fim de melhorar a qualidade de uma gema também ocorrem, sendo o aquecimento o tratamento mais comum e quase indetectável nesse caso (GIA, 2014).

É comum em feiras de gemas pelo mundo, as Paraíbas serem o centro das atenções, não apenas pela raridade, mas por suas cores e tamanhos (figura abaixo). Investidores e interessados em joias diferenciadas apostam alto, principalmente em qualidades excepcionais, considerando que o valor do quilate nesses casos pode chegar a mais de 300 mil reais (GEMWORLD, 2022).

Figura 6 – Joias com turmalina Paraíba (A) Anel Coleção Chaumet Lumière d'eau, com águas-marinhas, turmalina Paraíba e diamantes (B) Broche Camellia Channel com turmalina Paraíba e diamantes (C) Gemas. (Fonte: (A) Chaumet; (B) Picciotto, 2016; (C) acervo pessoal)

Referências

BONEBAKKER. Be mine oh tourmaline. Bonebakker, [s.d.]. Disponível em: https://www.bonebakker.nl/be-mine-oh-tourmaline/. Acesso em: 29 set. 2022.

CHAUMET. Rings. Chaumet.com, Paris, [s.d.]. Disponível em: https://www.chaumet.com/gb_en/jewellery/rings.. Acesso em: 29 set. 2022.

FRITSCH, E.; SHIGLEY, J. E.; ROSSMAN, G. R.; MERCER, M. E.; MUHLMEISTER, S. M.; MOON, M. GEM-QUALITY CUPRIAN-ELBAITE TOURMALINES FROM SAO JOSE DA BATALHA, PARAIBA, BRAZIL. Gems & Gemology, California, v. 26, n. 3, p. 189-205, abr. 1990. Disponível em: https://www.gia.edu/doc/Gem-Quality-Cuprian-Elbaite-Tourmalines-from-Sao-Jose-Da-Batalha-Paraiba-Brazil.pdf. Acesso em: 28 jun. 2022.

GEM SELECT. Tourmaline gems: tourmaline meaning and healing powers. Gem Select, [s.d.]. Disponível em: https://www.gemselect.com/other-info/tourmaline-meaning-power-uses.php. Acesso em: 29 set. 2022.

GEMWORLD INTERNATIONAL - Gem Guide. Disponível sob consulta paga em: https://www.gemguide.com/. Acesso em: 02 set. 2022.

KATSURADA, Y.; SUN, Z.; BREEDING, C. M.; DUTROW, B. L. Geographic origin determination of Paraíba tourmaline. Gems & Gemology, winter, p. 648 -659, 2019.

PICCIOTTO, E. What is a Paraiba torumaline? The Eye of Jewelry, 22 fev. 2016. Disponível em: https://theeyeofjewelry.com/stones/paraiba-tourmaline. Acesso em: 29 set. 2022.

SHIGLEY, J. E.; COOK, B. C.; LAURS, B. M.; BERNARDES, M. de O. An update on “Paraíba” tourmaline from Brazil. Gems & Gemology, winter, p. 260 -276, 2001. Disponível em: https://www.gia.edu/doc/An-Update-on-Paraiba-Tourmaline-from-Brazil.pdf. Acesso em: 29 set. 2022.